quarta-feira, 16 de maio de 2012

A grande chegada - Relato do parto

Um dia antes do seu nascimento, o  tampão saiu. Praticamente 24h antes do nascimento. Sabia que era o tampão, depois de ler muito sobre o assunto e ficar me perguntando se eu teria essa experiência, já que não são todas as mulheres que o perdem. Era bem parecido com clara de ovo (como diziam os artigos sobre isso) e tinha algum sangue. Não liguei pro meu médico, afinal já estávamos muito ansiosos nos últimos dias com tantas consultas e acompanhamento do colo do útero que não havia nada de dilatação, estava fechadinho e com a descida lenta do bebê. Meu terror nas últimas semanas em ter a possibilidade de um parto cesariano me amedrontava, então não contei a ninguém sobre o tampão, para não causar ansiedade em mim mesma.
O dia foi passando e eu continuei perdendo mais sangue com meleca do tampão, mas em menor quantidade. coloquei um absorvente para me certificar de que não era a bolsa que havia estourado e o fluxo realmente não aumentou, então me mantive tranquila. Mais no final do dia comecei a sentir uma cólica bem de leve, mas isso já havia acontecido nas semanas anteriores e achei normal. No início da noite, achei por bem contar ao Jorge sobre o tampão, me sentia mais segura e de volta com a certeza do parto natural. Não pensei por nenhum momento que poderia ter problemas com a dilatação na hora do parto, nem mentalizei isso. Nada de negativo passou pela minha cabeça (como ficar horas em trabalho de parto e depois ter que ir para uma mesa de cirurgia). Jorge ficou um pouco eufórico com a notícia, mas pedi que ele não fizesse alarde e que a informação ficasse entre nós dois apenas. Era véspera de feriado, estavam todos em casa e eu não queria especulação.
As horas foram passando e de repente notei que as cólicas estavam um pouco mais fortes. Foi algo que aconteceu sem eu perceber. Simplesmente parei e pensei "ops, essa foi mais forte". Então me dei conta de que as cólicas eram contrações. eu estava esperando por uma dor que viesse das costas e depois para o baixo ventre para acreditar que era uma contração, afinal havia lido isso como descrição de uma contração. Nada disso... eu não sentia nada nas costas e achei que fosse falso trabalho de parto, de modo que não dei corda para a dorzinha insistente e latente na barriga. Tratei de avisar o Jorge que provavelmente seria naquele final de semana e que não iríamos na consulta do dia 2 de maio. Ele ficou feliz e de tão feliz achou graça perder o feriado nos dias da sua licença, caso realmente ele chegasse.
Aproximadamente as 21h30 decidimos que poderia ser uma boa ideia contar o espaço entre as contrações, pois na minha carteirinha pré-natal dizia que de 10 em 10 com duração de 1 minuto era motivo para ligar pro médico, mas o tempo ainda era incerto entre 11 e 12 minutos e com duração de 30 - 40 segundos. Sim, eram contrações, mas ainda não entrei em consciência que era o meu trabalho de parto. Ficamos contando e conversando durante quase 2h e decidimos que era melhor ligar para o médico e perguntar se deveríamos ir ao hospital. Eu estava muito reticente quanto a ir ao hospital ainda, pois sabia que se não estivesse com pelo menos 3cm de dilatação seria mandada de volta pra casa E caso fosse falso trabalho de parto também. Jorge me perguntou se queria ir ao hospital a cada 30 minutos desde o momento em que contei do tampão.
Ligamos para o médico as 23h30, mas ele estava dormindo e eu não quis que o acordassem. Na minha cabeça, ainda dava para segurar em casa e eu estava suportando muito bem as contrações. Mandei o Jorge dormir, pois caso eu ficasse muito cansada (neste momento eu pensei em todas as possibilidades de parto) ele teria que estar disposto para cuidar de mim. Finalmente aceitei - estava em trabalho de parto. Mentalizei como eu queria que fosse e continuei as práticas de evolução para o Parto Natural: caminhei pela casa, subi e desci as escadas para tomar água, fiz agachamento e tomei 3 duchas quentes. Tinha em mente esperar até as 4h e então partir para o hospital, mas era madrugada e eu comecei a ficar entediada na casa apagada. As 2h30 acordei o Jorge e avisei que iria tomar um banho e me arrumar para irmos a maternidade. A essa altura eu sabia que não seria enviada de volta para casa. Tomei um banhão demorado, as malas já estavam no carro desde a hora que ligamos pro médico, então acordei o Jorge novamente e fomos.
No caminho eu falava com um pouco mais de dificuldade, mas ainda tinha humor para rir e conversar tranquilamente com o Jorge. Fui conversando com o Theo na barriga também, avisando que a nossa hora estava chegando e que teríamos que trabalhar juntos. Chegando na maternidade erramos a porta de entrada e os intervalos entre as contrações estavam diminuindo. Ao sair de casa já estavam em 8 minutos de intervalo e durando 1 minuto. Caminhando para a recepção eu precisava parar um pouco quando vinha a contração e então respirava fundo e meditava pensamentos positivos. Era um verdadeiro mantra.
Demos entrada na maternidade as 3:55, quase como eu pretendia que fosse... as 4h. Antes de ligar para o meu médico, fui ligada aos aparelhos para ver como estavam as contrações e o bebe.

Com sono eu queria era mais uma soneca entre uma contração e outra, mas não dava tempo..rs
Após uns 20 minutos a enfermeira disse que eu estava resistindo bem, pois as minhas contrações estavam ritmadas e bem intensas. Eu só sorri. A médica plantonista chegou e fomos para o exame de toque - péssima idéia, mas são procedimentos de rotina do hospital. Entrei na sala e a dra. que era bem novinha não me olhou muito nos olhos. Me pediu para sentar, mas eu não me sentia bem naquela posição, então fiquei em pé. Ela fez algumas perguntas que não me recordo agora (Jorge respondeu a todas), e me mandou para a maca. A enfermeira entrou comigo na outra salinha (havia uma porta separando a maca da mesa dela) e me pediu para colocar a camisola para fazer o procedimento. Me preparou e saiu. A médica entrou, colocou a luva, não falou comigo e veio. Eu havia feito 3 exames de toque no consultório com meu médico e não senti nenhum grau de dor. Quando essa doutora colocou seus dedinhos em mim, eu fui a lua e voltei. Gritei na hora, mas não foi um grito de dor, foi um grito de indignação. Mesmo sentindo aquela sensação infernal eu não me mexi ou contraí nenhum músculo, pois sabia que isso faria a coisa demorar mais. Olhei para baixo entre as minhas pernas e ela estava pedindo alguma  coisa para a enfermeira "Ei, o que vc está fazendo aí?" perguntei num tom não muito amigável. Ela estava segurando a abertura para ver a cor do líquido amniótico e se a bolsa ainda estava inteira, mas não me informou isso, então fiquei sentindo o que deve ter sido uns 40 segundos de dor muito intensa que pareceram durar 20 minutos. Fiquei muito brava mesmo, afinal estava num estado de paz, cuidando do meu mantra até ali para uma plantonista acabar com a minha concentração?! Bem, assim que acabou eu jorrei em sangue e olhei espantada para a enfermeira - pois a delicada já havia saído da salinha da maca - e ela me tranquilizou explicando o que havia acontecido e dizendo que era normal sangrar após o toque naquela situação: eu estava com 4cm. Me vesti novamente e coloquei uma compressa de pano que a enfermeira me deu, para usar como absorvente. Fiquei observando a dra delicada ligar para o meu médico na minha frente e dizer todos os termos técnicos para contar que minha bolsa estava intacta, o líquido transparente, o colo fino e a dilatação boa em 4cm. Ele disse que iria em breve e ela me ofereceu "sorinho para ajudar?". "Ajudar no que?" eu perguntei arrogante "Esperei 9 meses, não tenho pressa". Queria me enfiar ocitocina na veia para acelerar meu parto...Ah, tá!
Depois de tanta desconcentração do meu mantra, foi difícil voltar ao meu estado espiritual e mental, mas eu consegui. Não tinham apartamentos vagos quando chegamos, então o Jorge ficou preenchendo a papelada e eu fui esperar na sala de pré-parto com outras mulheres. Estava temendo isso, pois lá poderiam ter mulheres muito conectadas com a dor e aos gritos, coisa que eu não queria. Mas havia apenas 2 e estavam conectadas ao "sorinho", jogadas nas camas. Esta sala era bacana, com enfermeiras simpáticas e atenciosas e itens para incentivar o TP como bola de pilates, um chuveiro e as meninas obstetrizes/doulas. Um ambiente acolhedor, mas que infelizmente as mulheres ainda não aproveitavam. Ficavam lá deitadonas. 
Logo que entrei na sala de Pré-parto me ofereceram a 2 camisolas (que deixa o bumbum de fora), para usar uma pra frente e outra pra trás, deixando a gente mais a vontade. Tudo bem, eu já estava sangrando mesmo, seria bom tirar a roupa de casa. Me mandaram tirar também a lingerie, aí eu pedi para ficar ao menos com o sutien, pois meu seio é grande e me incomoda ficar sem nada. Tentaram com veemência me convencer a tirar, dando motivos que nem vale repetir, mas acabaram cedendo e eu pude ficar com ele e também com o robe do papai que eu usei desde casa. Estava frio, eu precisava disso para me sentir aquecida e mais a vontade do que com aquelas camisolas feias.
Bom, daí em diante era uma espera... esperar terminar de dilatar, esperar as contrações ficarem ainda mais fortes e ritmadas e não parar. Fiquei andando pelos corredores do hospital. Em nenhum momento eu deitei na maca. Apenas para o exame de toque seguinte após 2h - 6cm de dilatação e meu médico chegou. 
Após muita conversa, decidimos estourar a bolsa. Meu médico não queria deixar o Theo entrar em nenhum tipo de sofrimento, então sugeriu o rompimento artificial. Não senti nada na hora, mas a contração seguinte foi uma loucura. Ela veio umas 10x mais forte que a última - antes do rompimento - mas essa parte é inexplicável. Após a bolsa estourar resolvi ir para o chuveiro amenizar a dor e ajudar a dilatar os últimos centímetros enquanto meu médico ia tomar um café. A essa altura eu já estava com 8cm e deveria ficar no chuveiro por pelo menos 1h para fazer efeito, mas com menos de 40 minutos comecei a sentir vontade de empurrar e me mandaram sair. Isso tudo aconteceu tão depressa que eu talvez não saiba contar com exatidão a sequencia dos fatos, pois fiquei em extremo êxtase. Teria caminhado até a sala de parto, mas eu tive que subir na maca - o que fez com que as últimas contrações fossem fenomenais (em nível de dor). Meu médico me ofereceu meia dose de anestesia para os minutos finais, e após MAIS conversa eu aceitei, pois já estava exausta. Havia acordado as 8h no dia anterior e já eram 10h30 da manhã, sendo cerca de 6h em trabalho de parto. Aceitei, pois tinha medo de não ter força no expulsivo e precisar usar fórceps ou algo do tipo.
Ao entrar na sala de parto, me pareceu estar em outro universo. Era como se tudo ali fosse só meu, só para mim. Um espaço limpo, um ambiente mais aconchegante que a sala de pré-parto, sem pessoas extras, com uma luz baixa e uma equipe fantástica. Foi delicioso. Ainda sentia as contrações e uma enorme vontade de expulsar, mas estava no meio da anestesia. Ganhei um soro para garantir minha pressão (a anestesista foi um amor, acompanhou todo o processo na sala de parto). Meu médico pediu para empurrar quando sentisse a contração e ele coroou na primeira. Foi uma festa. A cada empurrada médico e anestesista ia me explicando como segurar e como fazer a força direcionada lá em baixo e não no pescoço. Perguntei do pai e o médico logo chamou por ele. Eu já estava anestesiada, mas ainda sem efeito continuei a empurrar pois ele já estava praticamente ali, quando o Amauri me avisou que teria que cortar. O bendito cortinho da episio... meu temido. Neguei de cara, e ele riu . "Marininha, eu sei que vc não gosta da idéia, mas acredite em mim, vamos precisar. Não quero que vc rasgue pra qualquer lado" ele me disse isso e eu só quis garantir que não iria sentir. Então ele perguntou "sente isso?", eu não sentia nada e ele me avisou que já havia cortado. Resolvi me desapegar disso, pois meu bebe estava chegando. Após a episio, empurrei 2x e ele saiu. Senti toda a movimentação antes de a cabeça sair, mas não senti mais dor (a não ser a contração forte). Assim que a cabeça saiu eu pensei "ufa, a cabeça saiu...calma aí, mas tem o resto, vou fazer mais força" (risos). Logo que ele saiu de mim, foi colocado no meu peito, ainda sangrando, branquinho, e pudemos paparica-lo e chorar e rir bastante em cima dele. Ele não chorou, apenas espirrou 2x.  O papai não pôde cortar o cordão como eu queria (e o médico havia gostado da idéia), pois o procedimento do hospital não permitia. Respirou sozinho no seu tempo e não passou por traumas logo após o nascimento como tapas, agulhas ou aspirações. A pesagem foi rápida e ele logo voltou pro meu colinho enrolado num cobertor fofo. Enquanto ele era pesado, eu era costurada na episio e totalmente sã eu conversei com o médico e rimos muito. Entrei na sala de parto as 10h30 +- e Theo nasceu exatamente as 10h40.

OBRIGADA:
Meu Deus, pela dádiva concedida. Pelo momento que não somos nós que escolhemos, mas que sempre é perfeito. 
Google por me instruir a sua maneira. 
Doulas da internet por compartilhar métodos e táticas de lidar com o parto natural. 
Jorge, por ser o melhor companheiro que uma mulher pode ter; por estar ao meu lado em todos os momentos; por me mimar durante a gestação; por saber exatamente o que dizer quando lemos o positivo no teste; por me fazer carinho durante o parto, ainda que eu estivesse em outro planeta; por partilhar comigo; por ser meu amigo, meu amante, meu amor, minha estrutura e meu devaneio, tudo.
Mãe, por ser meu alicerce e exemplo de vida; por tudo o que sofreu por mim para que eu chegasse ao mundo; por todo o carinho e amor que dedicou a mim; e me perdoe por todo o amor que ficou travado quando eu não demonstrei. Tenho muito o que agradecer a você e não sabia.
Pai, por falar comigo durante o trabalho de parto e achar normal assim como eu...rs. Obrigada por não ser um pai normal e não me deixar ser uma filha normal.
Dr.Amauri, meu ginecologista-obstetra, pelo carinho, cuidado, orientação, sorriso e conforto que nos trouxe durante todo o período da gestação, parto, pós-parto e hoje.
Fabinho, anestesista, por ser tão amigável, divertido, habilidoso e cuidadoso conosco e principalmente comigo num momento tão único.

Fora o que não pôde ser feito a minha maneira, saiu tudo perfeito. A dor, durante o tempo que a senti. A anestesia suave, dada nos últimos minutos, que me permitiu sentir o parto e me movimentar logo após acabar a costura da episio. O fato de não ter berçário no Hospital Antoninho da Rocha Marmo e me permitir ficar com ele a todo instante. A chegada... a grande chegada do Theo, numa manhã chuvosa de abril, mudou a minha vida e isso é só o começo.

7 comentários:

  1. Sensacional..... porquê vai se lembrar de cada coisinha pra sempre. Que bom que deu tudo certo, como vc imaginou e tals...
    Bjokas. Andrea e Lara. http://coisas-da-lara.blogspot.com.br/

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  2. Má, eu estou muito emocionada lendo esse seu relato... chorando e rindo das situações como se eu estivesse lá no seu lugar! rs parabéns pela força, positividade, paciência, amor e carinho que você teve nessa preparação toda de longos meses, voce merece um homem que cuide tão bem assim de você como eu li, e o Theo sem duvida vai ser muito feliz, e espero que nada normal também... hehehe nossa, te adoro e não consigo parar de chorar!!!! rsrsrrs saudades!! se cuida linda

    Cristine (diretamente de Ouro Preto com todas as vibrações positivas possiveis nesse novo momento de vocês 3!!)

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  3. Marina, parabéns pela coragem e decisão de ter o Theo da maneira mais natural possível...juro que me peguei pensando em fazer o mesmo!!!Que vcs sejam muito felizes e que o THEO seja muito feliz ao lado de pais tão dedicados!!!

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  4. Marina!
    Lindo, lindo mesmo, como sempre otima com as palavras :)
    Deus abençoe vcs nessa nova fase, nao mais um casal, mas sim uma familia linda!
    Felicidade e amor sempre.

    bjos

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Mel, seu parto foi lindo amiga =), o Theo veio ao mundo da maneira mais bela que Deus poderia conceder... Parabéns pela coragem em todos os momentos, e como sempre vc não perdeu o humor, parabéns ao Jorge por ser um papai e companheiro exemplar, estando ao seu lado nesse momento com calma =)... Que o Theo seja cheio de saúde, pois sei que amor vc vai sempre dar bastante =)! Infelizmente eu não pude acompanhar sua gestão como uma amiga presente em todos os momento, não vi vc de barrigão e talz =/... Mas saiba que eu AMO mto vc's viu =*

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  7. Já li e reli na esperança de receber um sinal assim do nada como vc! Já passei das 40
    Semanas e nenhum sinal, nada de tampão, de contração, de dilatação... Ainda no aguardo de conseguir fazer o parto normal, mas por enquanto, a filhota ta bem quietinha, colo fechado, cabeça alta como vc falou... Vc estava de quantas semanas??
    Bjos

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Marina Minari